terça-feira, 13 de dezembro de 2022

 

A cultura indígena paranaense

No Paraná, vivem cerca de 13.300 indígenas. Aproximadamente 70% pertencem ao povo Kaingang (tronco linguístico Macro-Jê) e 30% ao povo Guarani (tronco linguístico Tupi-Guarani).

Há famílias descendentes do povo Xetá (tronco linguístico Tupi-Guarani) e algumas do povo Xokleng (tronco-linguístico Macro-Jê), distribuídas em 23 Terras Indígenas/Aldeias, A cultura indígena está presente em vários aspectos do nosso cotidiano, como por exemplo no nome das cidades como Guarapuava, e também o próprio nome do estado: Paraná que significa "rio caudaloso".













Veja a localização das terras indígenas no estado do Paraná — Foto: Estúdio C / RPC

Podemos estar imersos dentro da cultura indígena, mas muitas vezes não damos conta ou os devidos créditos para a cultura indígena. Exemplos mais próximos que podemos listar é a pipoca, paçoca, pirão, canjica, pamonha, O Tereré ou Erva Mate, danças, pinturas, instrumentos, músicas... E, claro, isso contribui para fazer jovens relembrarem seus ancestrais. Segundo o portalkaingang.org o pinhão, abundante nas vastíssimas florestas de araucária presentes do Sul de Minas Gerais ao centro do Rio Grande do Sul (e também na região de Misiones, Argentina), que coletavam entre os meses de março e maio, e para o qual criaram formas de conservação, como a farinha do pinhão e o "pinhão d'água" ou õkór (os pinhões eram colocados num cesto com tampa e este amarrado a um cipó era colocado em um poço de rio). Também usavam o pinhão para produzir uma de suas bebidas fermentadas.

Da cultura kaingan, podemos tobservar em nosso dia a dia, o palmito, do qual costumavam também fazer farinha, o mel das abelhas indígenas (como o guaraipo, mirim, irapuá, iratim, mandassaia etc), consumido ao natural, mas também usado para produzir a bebida fermentada do Kiki, as frutas silvestres, como a jabuticaba, o guamirim, pitanga, butiá, ariticum, araçá, etc. Entre outras que você pode ver no portalkaingang.org.

 

POVO KAINGANG

 

O ritual do kiki originou-se de acordo com a lenda de que houve uma guerra entre índios e não índios, dois índios se perderam na mata, um Kamé e outro Kairu, cansados os dois índios pararam para descansar e ouviram que um deles iria morrer, logo apareceu mig Fer (cobra de asas) e devorou o Kairu até os ossos, assim sendo o amigo Kamé jurou vingança.

Confeccionou um cesto para levar os resto mortais do amigo, construiu uma casa com folhas de palmeira, deixando uma fresta no teto, algum tempo depois apareceu a Mig Fer e levou flechadas e morreu. O Kamé enterrou o amigo e fez uma fogueira convidando todos em volta da aldeia pra rezar em memória do amigo. Assim surgiu a festa do kiki.

Para preparar a festa, é indispensável que os Kaingangs se pintem especialmente para o ritual, eles se dividem entre eles e cada metade tem sua pintura, os Kamé têm risquinhos e os Kairu tem bolinhas, essa pintura é feita com carvão, os do Kamé é feito com lasca de pinheiro queimado e depois umedecido, já do grupo do Kairu são feitos com madeira sete sangrias, a coloração fica definida assim: Kamé, preto; Kairu, vermelho.

Saber diferenciar as partes complementares é essencial para compreender o ritual kiki também conhecido como Kikikoi, ou em outro entender, culto aos mortos. Há relatos de que a única comunidade a praticar essa festa são os Kaingang da Terra Indígena em Chapecó-SC.

POVO TUPI-GUARANI

O Povo Tupi-Guarani foi um dos primeiros a serem contatados após a chegada dos europeus na América do Sul, cerca de 500 anos atrás.

No Brasil, vivem atualmente cerca de 34.000 índios Guarani, em sete estados diferentes, tornando-os a etnia mais numerosa do país. No Paraná são 4.000 pessoas, aproximadamente

(IBGE,2010).

Se dividem em três grupos: Kaiowá, Ñhandeva e M’byá, dos quais o maior é o Kaiowá, que significa ‘povo da floresta’.

Entre eles, estão presentes nos discursos cosmológicos, desde o século XVI, referências à Terra Sem Mal que é um lugar indestrutível, morada dos ancestrais, dos deuses, da abundância, das danças, acessível aos vivos onde é possível ascender sem a necessidade de morte. A Terra Sem Mal é, efetivamente, a preocupação dos xamãs guarani. O xamanismo ocupa um espaço central na cosmologia e na construção da sociabilidade Guarani. O xamã – Karaí circula e mantém contato entre o mundo dos vivos, dos mortos, dos espíritos, da natureza etc. É através desse contato com os diversos mundos, que adquirem forças para estabelecer as relações na aldeia.

Os Guarani necessitam do trabalho do xamã para constituir seu universo social. Através de seu trânsito entre as divindades, o xamã adquire conhecimentos e forças para levantar as relações sociais típicas do modo de ser Guarani.

 As cerimônias religiosas eram dirigidas por homens, chamados pajés, mas as mulheres participavam dos rituais como profetisas. Eles davam muita importância aos sonhos e profecias e em época de conflitos e nunca partiam para um combate sem antes ouvir pajé. Acreditavam nos espíritos, principalmente dos parentes mortos.

Muitas vezes enterravam seus mortos dentro desses grandes vasos, que, reutilizados eram transformados nas chamadas urnas funerárias. Eles produziam também objetos de cerâmica, adornos de conchas, de pedras e de penas. Alguns dos objetos de adorno eram usados em atividades sociais coletivas, festas e rituais.

POVO XETÁ

Quando descobertos viviam da caça e de coleta de alimentos, não trabalhavam com a agricultura e nem com cerâmica, e atualmente suas atividades para a subsistência são agricultura, artesanato entre outros, A caça, a construção de habitações e armadilhas, a produção de alguns instrumentos, a segurança e defesa do grupo são atribuições masculinas, enquanto o preparo e distribuição de alimento, transporte da carga e dos alimentos e o cuidado da prole são atribuições femininas. A coleta, tecelagem e cestaria compõem o universo de ambos os sexos

Na Sociedade Xetá, assim como nas demais sociedades tribais no Brasil, homens e mulheres desempenham atividades baseadas na reciprocidade. A organização social se estrutura no sistema de parentesco e na divisão sexual do trabalho. Enquanto algumas atividades são especificamente atribuídas aos homens, outras são somente às mulheres. Simultaneamente ocorrem atividades desempenhadas por ambos os sexos.

É possível destacar que os Xetá geralmente se diferenciavam das outras etnias contidas no estado do paraná, primeiramente por sua fisionomia, possuíam cabelos longos, batoques (discos nos lábios inferiores) e como descreveu Trevisan (1979) em relatos de Albert Vojtech Fric possuíam pés, braços demasiadamente compridos e estatura baixa de aproximadamente 1,60cm. Contudo atualmente a diferenciação se faz mais difícil, principalmente pela miscigenação. Outro aspecto que os diferenciam das outras etnias são seus hábitos de caçadores coletores e não agricultores como os Guarani (pertencentes do mesmo tronco linguístico), fato este que natualmente é possível distinguir, mesmo que sutilmente.

Pode-se notar que as relações dos Xetás estabelecidas com outras etnias como os Guarani e os Kaingang, e principalmente com os homens brancos se caracterizam essencialmente pela violência vinda dos não Xetá, e repressão dos costumes Xetás, o que possivelmente levou a quase total dizimação da presente etnia.

Arcos e flechas eram instrumentos indispensáveis para os Xetá. Na produção de seus artefatos e adornos, os índios utilizavam ossos e dentes de animais. Os ossos da perna de onça eram entalhados e afiados com uma pedra de amolar, transformando-se em formão. Utilizavam-se mandíbulas de roedores para perfurar e escavar madeira, couro, etc.


Podcast sobre a lenda da araucária e a gralha azul: https://on.soundcloud.com/iB9HyiogujR3nqEq6

Há muito, muito tempo atrás, numa época em que o Paraná ainda não era o Paraná, vivia por essas terras um índio chamado Curuaçu, o mais alto e mais

forte guerreiro de sua tribo. Certo dia, ao sair para caçar, Curuaçu encontrou uma onça, que ameaçava atacar a curandeira de uma tribo inimiga, por quem havia se apaixonado. Para salvar a amada, matou a onça. Mas a índia, assustada, desmaiou. Curuaçu tentou socorrê-la. Colocou a curandeira em seus braços. Mas os índios da tribo inimiga, ao encontrarem o caçador, pensaram que ele estava sequestrando a curandeira e revidaram com flechadas, matando-o. O que ninguém esperaria, porém, é que o índio acabaria por se transformar em uma araucária, enquanto sua amada viraria uma galha azul. As gotas de sangue que pingaram de Curuaçu viraram pinhões, que até hoje a gralha azul enterra por aí, espalhando as araucárias pelo mundo.








REFERÊNCIAS

POVOS INDÍGENAS NO PARANÁ, disponível em: https://www.fag.edu.br/upload/ecci/anais/5b91277825603.pdf

 

OS JÊ MERIDIONAIS:KAINGANG E XOKLENG (Laklãnõ), disponível em: http://portalkaingang.org/index_cultura_1.htm

 

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

 


O TRÁFICO TRANSATLÂNTICO
E O DRAMA NOS NAVIOS NEGREIROS


trecho do Poema “ Navio negreiro” de Castro Alves
....
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece, Cantando, geme e ri!
....
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!


O tráfico negreiro foi uma atividade realizada entre os séculos XV ao XIX. trazia forçadamente africanos para serem escravizados no Brasil e, ao longo de 300 anos dessa prática, quase cinco milhões de africanos desembarcaram aqui. resultando na chegada de milhões de cativos africanos ao Brasil. O Processo migratório transoceânico foi intenso e não pode ser tratado de forma tão simples.

Os escravos eram obtidos na África por meio dos traficantes que compravam prisioneiros de guerra ou sequestravam africanos. eram comprados nas regiões litorâneas da África para serem escravizados no continente europeu e no continente americano.

A principal rota era a transatlântica e os principais fluxos migratórios ocorriam dos países Guiné, congo, angola e Moçambique. Estima-se que cerca de 12,5 milhões de Africanos deixaram a costa Africana na traficância para o Brasil, e cerca de 2,5 milhões de pessoas tenham morrido nesse trajeto.

Eram pessoas que ao serem coagidas e capturadas deixaram para traz: Família, país, cultura, Religião, hobby, profissão, uma historia


As condições do tráfico negreiro
 
 Eram desumanas. Centenas de
pessoas ocupavam espaços reduzidos. 
As viagens duravam dias e semanas e nesse período os escravos não possuíam as vestimentas necessárias, a comida adequada e muito menos a higiene apropriada.
- necessidades básicas em público, com os dejetos a mostra
- comida era pouca e mal higienizada.
"Nos tumbeiros, a mandioca constituía um componente importante da alimentação dos marinheiros e dos a africanos. Dava-se diariamente a cada escravo. nas travessias seiscentistas. 1.8 litros de mandioca. um quinto de a litro de feijão ou milho, farinha feita de em bá (o coquinho da palmeira de dendê), peixe seco e salgado, carne de boi, baleia, hipopótamo ou elefante." (ALENCASTRO, 2000, p. 252)
-
por falta de tecidos em determinado tempo de viagem a nudez ou seminudez poderia prevalecer.
- agressão física, o açoite dentro dos navios.



Acesse nosso podcast: Romance literário e a verdade histórica por Osiel Moreira Júnior 

link: https://on.soundcloud.com/BUFngBEkLiAAnXrK8 


REFERÊNCIAS


ALENCASTRO, Luis Felipe. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul São Paulo: Companhia

das Letras, 2000.

RUGENDAS, Johann Moritz. Ilustração "Negros no porão", 1835.

ALVEZ, Castro. Poema "Navio negreiro.

FLORENTINO. Manolo. Em costas negras: uma história do tráfico de escravos entre a Africa e o Rio de Janeiro

(séculos XVIII e XIX). São Paulo: Companhia das Letras, 1997