A cultura indígena paranaense
No Paraná, vivem cerca de
13.300 indígenas. Aproximadamente 70% pertencem ao povo Kaingang (tronco
linguístico Macro-Jê) e 30% ao povo Guarani (tronco linguístico Tupi-Guarani).
Há famílias descendentes do povo Xetá (tronco
linguístico Tupi-Guarani) e algumas do povo Xokleng (tronco-linguístico
Macro-Jê), distribuídas em 23 Terras Indígenas/Aldeias, A cultura indígena está
presente em vários aspectos do nosso cotidiano, como por exemplo no nome das
cidades como Guarapuava, e também o próprio nome do estado: Paraná que
significa "rio caudaloso".
Veja a localização das terras indígenas no estado do Paraná — Foto: Estúdio C / RPC
Podemos estar imersos dentro
da cultura indígena, mas muitas vezes não damos conta ou os devidos créditos para
a cultura indígena. Exemplos mais próximos que podemos listar é a pipoca, paçoca,
pirão, canjica, pamonha, O Tereré ou Erva Mate, danças, pinturas, instrumentos,
músicas... E, claro, isso contribui para fazer jovens relembrarem seus
ancestrais. Segundo o portalkaingang.org o pinhão, abundante nas vastíssimas
florestas de araucária presentes do Sul de Minas Gerais ao centro do Rio Grande
do Sul (e também na região de Misiones, Argentina), que coletavam entre os
meses de março e maio, e para o qual criaram formas de conservação, como a
farinha do pinhão e o "pinhão d'água" ou õkór (os pinhões eram
colocados num cesto com tampa e este amarrado a um cipó era colocado em um poço
de rio). Também usavam o pinhão para produzir uma de suas bebidas fermentadas.
Da cultura kaingan, podemos
tobservar em nosso dia a dia, o palmito, do qual costumavam também fazer
farinha, o mel das abelhas indígenas (como o guaraipo, mirim, irapuá, iratim,
mandassaia etc), consumido ao natural, mas também usado para produzir a bebida
fermentada do Kiki, as frutas silvestres, como a jabuticaba, o guamirim,
pitanga, butiá, ariticum, araçá, etc. Entre outras que você pode ver no portalkaingang.org.
POVO KAINGANG
O ritual do kiki originou-se
de acordo com a lenda de que houve uma guerra entre índios e não índios, dois
índios se perderam na mata, um Kamé e outro Kairu, cansados os dois índios pararam
para descansar e ouviram que um deles iria morrer, logo apareceu mig Fer (cobra
de asas) e devorou o Kairu até os ossos, assim sendo o amigo Kamé jurou
vingança.
Confeccionou um cesto para
levar os resto mortais do amigo, construiu uma casa com folhas de palmeira,
deixando uma fresta no teto, algum tempo depois apareceu a Mig Fer e levou
flechadas e morreu. O Kamé enterrou o amigo e fez uma fogueira convidando todos
em volta da aldeia pra rezar em memória do amigo. Assim surgiu a festa do kiki.
Para preparar a festa, é
indispensável que os Kaingangs se pintem especialmente para o ritual, eles se
dividem entre eles e cada metade tem sua pintura, os Kamé têm risquinhos e os
Kairu tem bolinhas, essa pintura é feita com carvão, os do Kamé é feito com
lasca de pinheiro queimado e depois umedecido, já do grupo do Kairu são feitos
com madeira sete sangrias, a coloração fica definida assim: Kamé, preto; Kairu,
vermelho.
Saber diferenciar as partes
complementares é essencial para compreender o ritual kiki também conhecido como
Kikikoi, ou em outro entender, culto aos mortos. Há relatos de que a única comunidade
a praticar essa festa são os Kaingang da Terra Indígena em Chapecó-SC.
POVO TUPI-GUARANI
O Povo Tupi-Guarani foi um dos
primeiros a serem contatados após a chegada dos europeus na América do Sul,
cerca de 500 anos atrás.
No Brasil, vivem atualmente
cerca de 34.000 índios Guarani, em sete estados diferentes, tornando-os a etnia
mais numerosa do país. No Paraná são 4.000 pessoas, aproximadamente
(IBGE,2010).
Se dividem em três grupos:
Kaiowá, Ñhandeva e M’byá, dos quais o maior é o Kaiowá, que significa ‘povo da
floresta’.
Entre eles, estão presentes
nos discursos cosmológicos, desde o século XVI, referências à Terra Sem Mal que
é um lugar indestrutível, morada dos ancestrais, dos deuses, da abundância, das
danças, acessível aos vivos onde é possível ascender sem a necessidade de
morte. A Terra Sem Mal é, efetivamente, a preocupação dos xamãs guarani. O
xamanismo ocupa um espaço central na cosmologia e na construção da
sociabilidade Guarani. O xamã – Karaí circula e mantém contato entre o mundo
dos vivos, dos mortos, dos espíritos, da natureza etc. É através desse contato
com os diversos mundos, que adquirem forças para estabelecer as relações na
aldeia.
Os Guarani necessitam do
trabalho do xamã para constituir seu universo social. Através de seu trânsito
entre as divindades, o xamã adquire conhecimentos e forças para levantar as relações
sociais típicas do modo de ser Guarani.
As cerimônias religiosas eram dirigidas por
homens, chamados pajés, mas as mulheres participavam dos rituais como
profetisas. Eles davam muita importância aos sonhos e profecias e em época de
conflitos e nunca partiam para um combate sem antes ouvir pajé. Acreditavam nos
espíritos, principalmente dos parentes mortos.
Muitas vezes enterravam seus
mortos dentro desses grandes vasos, que, reutilizados eram transformados nas
chamadas urnas funerárias. Eles produziam também objetos de cerâmica, adornos
de conchas, de pedras e de penas. Alguns dos objetos de adorno eram usados em
atividades sociais coletivas, festas e rituais.
POVO XETÁ
Quando descobertos viviam da
caça e de coleta de alimentos, não trabalhavam com a agricultura e nem com
cerâmica, e atualmente suas atividades para a subsistência são agricultura, artesanato
entre outros, A caça, a construção de habitações e armadilhas, a produção de
alguns instrumentos, a segurança e defesa do grupo são atribuições masculinas, enquanto
o preparo e distribuição de alimento, transporte da carga e dos alimentos e o
cuidado da prole são atribuições femininas. A coleta, tecelagem e cestaria
compõem o universo de ambos os sexos
Na Sociedade Xetá, assim
como nas demais sociedades tribais no Brasil, homens e mulheres desempenham
atividades baseadas na reciprocidade. A organização social se estrutura no
sistema de parentesco e na divisão sexual do trabalho. Enquanto algumas
atividades são especificamente atribuídas aos homens, outras são somente às
mulheres. Simultaneamente ocorrem atividades desempenhadas por ambos os sexos.
É possível destacar que os
Xetá geralmente se diferenciavam das outras etnias contidas no estado do
paraná, primeiramente por sua fisionomia, possuíam cabelos longos, batoques
(discos nos lábios inferiores) e como descreveu Trevisan (1979) em relatos de
Albert Vojtech Fric possuíam pés, braços demasiadamente compridos e estatura
baixa de aproximadamente 1,60cm. Contudo atualmente a diferenciação se faz mais
difícil, principalmente pela miscigenação. Outro aspecto que os diferenciam das
outras etnias são seus hábitos de caçadores coletores e não agricultores como
os Guarani (pertencentes do mesmo tronco linguístico), fato este que natualmente
é possível distinguir, mesmo que sutilmente.
Pode-se notar que as
relações dos Xetás estabelecidas com outras etnias como os Guarani e os Kaingang,
e principalmente com os homens brancos se caracterizam essencialmente pela
violência vinda dos não Xetá, e repressão dos costumes Xetás, o que
possivelmente levou a quase total dizimação da presente etnia.
Arcos e flechas eram instrumentos indispensáveis para os Xetá. Na produção de seus artefatos e adornos, os índios utilizavam ossos e dentes de animais. Os ossos da perna de onça eram entalhados e afiados com uma pedra de amolar, transformando-se em formão. Utilizavam-se mandíbulas de roedores para perfurar e escavar madeira, couro, etc.
Podcast sobre a lenda da araucária e a gralha azul: https://on.soundcloud.com/iB9HyiogujR3nqEq6
Há muito, muito tempo atrás, numa época em que o Paraná ainda não era o Paraná, vivia por essas terras um índio chamado Curuaçu, o mais alto e mais
forte guerreiro de sua tribo. Certo dia, ao sair para caçar, Curuaçu encontrou uma onça, que ameaçava atacar a curandeira de uma tribo inimiga, por quem havia se apaixonado. Para salvar a amada, matou a onça. Mas a índia, assustada, desmaiou. Curuaçu tentou socorrê-la. Colocou a curandeira em seus braços. Mas os índios da tribo inimiga, ao encontrarem o caçador, pensaram que ele estava sequestrando a curandeira e revidaram com flechadas, matando-o. O que ninguém esperaria, porém, é que o índio acabaria por se transformar em uma araucária, enquanto sua amada viraria uma galha azul. As gotas de sangue que pingaram de Curuaçu viraram pinhões, que até hoje a gralha azul enterra por aí, espalhando as araucárias pelo mundo.
REFERÊNCIAS
POVOS INDÍGENAS NO PARANÁ, disponível em: https://www.fag.edu.br/upload/ecci/anais/5b91277825603.pdf
OS JÊ MERIDIONAIS:KAINGANG E XOKLENG (Laklãnõ), disponível em: http://portalkaingang.org/index_cultura_1.htm
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